Grito

inspiro cuidado

quando o perfume das flores

não inunda o olfato

sinto pouco

a vertigem que abraça os músculos

faz esmorecer qualquer vontade

de ver além de um horizonte turvo

busco um lugar

onde o tempo me embale

lento – como o mover das folhas

na brisa suave

e careço

anseio perder os pensamentos

num prado pacífico

sentir-me fundir à natureza

que acolhe até aquele

meu pior defeito

inspiro cuidado

pois cheia do que me intoxica

expiro um grito rouco

que não traz palavra

nem se veste de sentido

um grito que entre

montes e pedras

ecoa o sofrer mais primitivo

de (um) nascer

humano.