Padecer
- Quase Amor
- 22 de jul. de 2019
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aperto os nós mais forte,
não quero fios soltos ou falhas!
a manta pesada é tecida
com fibras dos meus músculos.
quero envolver meu corpo em mim mesma,
quero sentir-me abraçada por cada
pedaço do que me mantém viva.
já vi mais do que gostaria.
arranco os olhos com dedos feridos
— feridos dos nós tecidos,
da força que me garantiu
rasgar minha carne,
de sonhos que enterrei em covas
feitas quando já estava nua.
a manta aquece os ombros,
escorre em umidade
e me deixa brilhar sob a lua.
levo os olhos arrancados à boca,
faminta por qualquer paladar
que cale meus pensamentos.
abandono o coração na relva,
para algum animal selvagem
devorá-lo em seu momento de glória.
padeço sob a manta, então.
desfeita em cacos,
fundida à terra,
sem testemunhas.
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